sexta-feira, 17 de junho de 2011

“Cada um deve dar conforme decidiu em seu coração...”


Um pouco em atraso, mas fazendo o que posso escrevo este pequeno, digamos “comentário”, da minha vida em Roma. Caminho que iniciou no dia 26 de abril de 2010, com o curso de italiano em Bologna, depois com algumas experiências pastorais e por fim chegando a Roma, onde compartilho a vida da comunidade do Colégio Internacional e os estudos bíblicos junto à Pontifícia Universidade Gregoriana.
“Cada um deve dar conforme decidiu em seu coração, não com tristeza nem movido por força, pois Deus ama a quem dá com alegria. No restante, Deus tem o poder de fazer superabundar cada graça, porque tendo sempre o necessário em tudo, podemos cumprir generosamente todas as obras de bem e de bondade” (2Cor 9,7-8).
Começo com esta citação bíblica da carta de São Paulo aos Coríntios meu percurso de vida em Roma.
“Cada um deve dar conforme decidiu em seu coração...” Assim, comecei uma “nova vida” na Cidade Eterna, já considerada em tempos idos o centro do mundo, na qual Paulo escreveu a sua mais bela e mais profunda teológica carta. Cidade, da qual Paulo teve o sonho de evangelizar e que teve a dignidade de ser regada pelo sangue do seu martírio.
Decidi no meu coração fazer um percurso com a Palavra de Deus. Uma decisão difícil, pois por sete anos lecionei filosofia e havia me aprofundado bastante neste campo. Lecionei por dois anos em Cuiabá no Sedac – Studium Eclesiástico Dom Aquino Correa e na Faculdade Dehoniana por cinco anos. Um caminho, digamos filosófico já traçado. Mas decidi mudar “um pouco” a rota do meu aprofundamento de estudos. Movido por algo que é sempre maior do que se possa entender sentia-me chamado a dar este passo: aprofundar as Escrituras. Esta compreensão maior das Escrituras está em base àquilo que acredito e na qual decidi me consagrar. Ainda porque se lemos o evangelho de São Lucas no capítulo 24: “as aparições do ressuscitado”, Jesus não é reconhecido somente pelo sepulcro vazio ou pelas aparições aos discípulos, mas, sobretudo pela “memória das suas Palavras” (Escritura). Os discípulos não puderam completar seu caminho sem recordar àquilo que Jesus havia ensinado.
É neste sentido que faço este percurso, que para mim não é simplesmente um estudo, mas um percurso de vida, de fazer “memória atual” da Palavra e ali encontrar Cristo, centro interpretativo de toda a bíblia e da vida.

“...não com tristeza nem movido por força, pois Deus ama a quem dá com alegria”: Com alegria que as vezes se mistura com o “desespero”, com a “dificuldade” é que completo meu primeiro ano de estudo junto à Pontifícia Universidade Gregoriana. Alegria, desespero e dificuldade é porque o primeiro ano é sempre muito intenso. As línguas bíblicas aterrorizam e fazem perder o sono. Mas depois de se tornam a chave de abertura da mensagem. Isso é o mais interessante: aquilo que ao início parece impossível, depois de um tempo é a ferramenta que retira a “venda dos olhos”.
“No restante, Deus tem o poder de fazer superabundar cada graça...”: esta graça de Deus é sempre muito viva e presente na vida. Posso dizer que ao início pensei em deixar tudo e retornar a minha vida de vigário paroquial na Paróquia Sagrado Coração de Jesus em Taubaté, onde me senti muito bem e tive a alegria de trabalhar junto com este maravilhoso povo de Deus. Mas depois pensei que se Deus me havia destinado para cá era porque alguma coisa havia em seus planos. E hoje sinto em minha vida que a graça de Deus não é vã, mas tem o poder de fazer frutificar em cada mínima coisa a sua obra. Ainda com um longo caminho pela frente, pois como costumamos dizer entre nós estudantes que a bíblia é muito longa e complexa para ser estudada em pouco tempo.
“...porque tendo sempre o necessário em tudo, podemos cumprir generosamente todas as obras de bem e de bondade”: esta é uma palavra mais que verdadeira, pois traz a mente uma realidade que nem sempre percebemos: “Deus nos dá tudo”: capacidade, condições e tudo o mais para cumprir com generosidade a sua obra.
Aqui no Colégio Internacional temos o necessário para bem viver: espiritualidade, comunidade e condições para aprofundar as mais diversas áreas do conhecimento.
No centro da nossa Igreja temos condições de conhecê-la e vivê-la com profundidade e na sua maior diversidade.
No centro da nossa Congregação temos a oportunidade de compartilhar de perto suas conquistas e seus desafios.
Com nossa comunidade de brasileiros e com os confrades de muitos países do mundo temos a oportunidade de sentir as diferenças, mas acima de tudo de compartilhar o bem maior de temos em comum: nossa fé em Jesus Cristo.
Assim, terminando este ano acadêmico 2010 – 2011 temos somente a agradecer e compartilhar nossas vitórias em Cristo.
Superiores, comunidade de Roma e as nossas províncias que nos proporcionam esta experiência. “Gloriando-nos também de nossas fraquezas, para que se manifeste ainda mais em nossa vida a força de Cristo” (2Cor 12,9).
Abraço fraterno a todos
Pe. Claudio Roberto Buss,scj.